domingo, 21 de junho de 2009

Memorial

Meus primeiros anos escolares foram passados em uma escola particular, paga a custa de um trabalho artesanal realizado por minha mãe - o tricô, que lhe exigia até as madrugadas frias naquele recôndito rincão. Embora reconheça o sacrifício que ela enfrentou para que eu tivesse a educação que uma boa professora merece (era esse o seu desejo), poucas lembranças tenho das leituras daquele tempo.
Difícil recordar a primeira, a segunda, a terceira professora - inesquecível só a quarta - a da quarta série primária - Dona Antonieta, não por suas histórias (se é que contou), que não as tenho na memória, mas por ter-me feito dividir, ao longo do ano, a carteira com um colega que não conseguia copiar da lousa, somente do meu caderno. A doce Antonieta confinou-se ao atraso e, acredito, por conta disso, à reprovação no exame de admissão no respeitado Instituto de Educação.
Em casa, eram raros os livros de literatura. Importantes foram as enciclopédias, de qualidade duvidosa, adquiridas por meu pai, pois serviriam (e nunca o fizeram) como pesquisa para trabalhos escolares.
Aos onze ou doze anos, fui presenteada com um livro de contos de fada. Acredito que o presente tenha vindo de meu pai, afinal os vendedores deviam variar suas ofertas! Foram incontáveis as leituras e as lágrimas de um só conto - incremento para os sonhos da inocente garota.
Impossível esquecer as estórias do "Mundo da Criança" - volume 3 - que tomei emprestado de uma grande amiga da família. À noite, eram elas(com algumas preferências, é claro) que enriqueciam minha mente.
A reprovação no exame de admissão não impediu que fosse matriculada no Instituto de educação - na 6ª série - um ano de transição para o ingresso no ginásio; cinco anos marcados por raríssimas visitas à biblioteca da escola e ínfimas leituras de quaisquer natureza. Às vezes, surrupiava algumas "Seleções" que meu pai comprava regularmente e me detinha em algumas curiosidades que nelas apareciam.
O Segundo Grau, a contragosto, voltou-se para o magistério - muitas didáticas, confecção de materiais e, por incrível que pareça, sem contato até mesmo com a literatura infantil. Nessa época, o proibido era para todas as colegas da sala o mais apreciado. "O Pasquim", "O Último Tango em Paris" passaram pelos olhos ávidos da ingênua e futura professora primária.
Meio ano depois do estágio, lá estava eu ingressando no curso de Letras, com habilitação em Língua Portuguesa. A Literatura Portuguesa me apresentou a épica de Camões, pela qual me apaixonei; a Literatura Brasileira, os nossos clássicos. Porém coube à disciplina de Literatura do Rio Grande do Sul o despertar da minha vida como leitora: os contos, os causos e lendas de Simões Lopes Neto.
O gosto pela leitura foi fortalecido com a minha entrada na sala de aula - de imediato no Ensino Médio, o que me levou a estudar e compreender a literatura e a declamar para meus alunos Gregório de Matos, Gonçalves Dias, Vinícius de Moraes ou "Essa Nega Fulô" e... tantos outros.Desde então, não só as literaturas brasileira e portuguesa, especialmente textos de variados gêneros relacionados à educação despertam meu interesse - um desejo de compreender a complexidade do ensino e encontrar caminhos para o meu trabalho.

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